Tiggo 2 com tempero Caoa. Brasileiro vai engolir?

A comida chinesa caiu no gosto do brasileiro faz um tempo. Se ela não agrada muito seu paladar e você discorda, o império que o empresário Robinson Shiba construíu no Brasil vendendo comida chinesa em caixinhas prova o contrário. No mundo dos automóveis, não é bem assim. Embora o principal atributo dos carros chineses seja o “recheio”, o brasileiro prefere não arriscar com medo de uma azia indesejada.

Desde que se popularizaram no Brasil, os carros chineses evoluíram muito e o SUV Caoa Chery Tiggo 2 chega com uma pitada de tempeiro brasileiro e a intenção de mostrar que dá para evitar a congestão. Produzido em Jacareí, o Tiggo 2 é oferecido em duas versões, a Look e a ACT - testada por nós - vendida a R$ 66.490. Interessou? Então nas próximas linhas vou tentar responder se dá para confiar neste chinês.

O Tiggo 2 é uma promessa antiga. Foi mostrado no Salão de São Paulo de 2016 e chegou apenas em 2018 inaugurando a parceria da montadora chinesa com a Caoa, importadora dos veículos Hyundai e também fabrincante brasileira com quase 40 anos de estrada no país. O Tiggo 2 chegou com a missão de melhorar a imagem da Chery no Brasil e certamente vai se beneficiar da expertise da Caoa em pós venda.

Surpresa boa!

O  visual do Tiggo 2 está muito melhor resolvido. Também pudera, um dos designers foi Hakan Saracoglo, que veio da Porsche, onde ajudou a criar modelos como o Cayman e 918 Spyder. O desenho da dianteira agrada, os faróis contam com projetores que trazem até o nome do carro escrito na lateral. Luzes diurnas em LED fazem parte do pacote, assim como rodas aro 16. Cromados? É claro que existem, mas desta vez foram usados com moderação.

Desde a versão básica, que custa R$ 59.990, ele vem bem equipadinho.  Freios a disco nas quatro rodas, monitor de pressão nos pneus, ajuste elétrico dos faróis, ar condicionado, sensor de ré e luz de neblina traseira são itens de série desde a configuração de entrada.

A versão topo de linha adiciona piloto automático, controle de estabilidade, assistente de partida em rampa, câmera de ré, central multimídia com tela de 8” sensível ao toque com conectividade para Android Auto e Apple Car Play e até um teto solar. O único opcional é a pintura em preto no teto, oferecida por R$ 1.500. É pintura mesmo, não é envelopamento, ok?

Interior honesto

Vamos abrir as portas e verificar o interior. Pesou, né? Sentir o peso das portas, que utilizam um obsoleto sistema de pinos, não é o melhor cartão de visitas para um primeiro contato. Mesmo assim o interior embora simples, causou boa impressão. Ufa! O painel não possui desenhos rebuscados nem abusa dos cromados – o que para um carro chinês é ótimo.

Existe bastante plástico na cabine, mas os encaixes são corretos e você não vai sentir aquele cheio forte de plástico como nos primeiros chineses que desembarcaram por aqui. Os chineses estão evoluindo rápido.

O painel de instrumentos conta com dois mostradores analógicos e um visor digital cuja informação em destaque é a pressão dos pneus. Pena ela não ser configurável, afinal, não precisamos ver a pressão dos pneus o tempo inteiro no meio do painel de instrumentos, né? A parte configurável é comedida, nela podemos alterar entre velocidade, autonomia, consumo e odômetro.

A central multimídia, embora não seja a mais responsiva do mundo funcionou bem durante o teste, mas se você valoriza o GPS, é bom saber que ela não oferece.

A posição de guiar é elevada e agrada, todavia, falta espaço para a cabeça do motorista. Se você tiver mais de 1,70m de altura, certamente se sentirá desconfortável mesmo com o banco regulado para a posição mais baixa. A direção é hidráulica e não possui ajuste de profundidade, apenas altura. Quem vai atrás tem mais espaço para a cabeça do que quem vai na frente.

São 2,55 metros de entre-eixos, 18,6 cm de altura do solo e razoáveis 420 litros de capacidade no porta-malas.

Desempenho

O motor é um 1.5 flex, o mesmo que equipa o Celer, mas para o Tiggo 2 ele ganhou comando de válvula variável. Rende 110 cv e 13,8 kgfm de torque na gasolina e 115 cv e 14,9 no etanol. No álcool o desempenho é otimizado mas o consumo aumenta, para efeito de comparação são 7,7 km/l na cidade e 8,5 km/l na estrada, contra 10,9 km/l em circuito urbano e 12,3 km/l em rodoviário quando abastecido com gasolina.

O câmbio é manual de 5 marchas com engates honestos. Em subidas e retomadas o motor gira alto e o ruído invade a cabine e com o carro cheio o desempenho pode deixar a desejar. Nas curvas em alta velocidade o rolamento da carroceria é bem perceptível, mas o que segura um pouco é o acerto da suspensão que surpreendentemente está mais durinho e não molenga como é comum nos carros chineses.

O Tiggo 2 veio com um preço atraente, mas repetiu o erro da JAC com o T40 em não trazer uma versão equipada com câmbio automático logo de cara. Hoje, o Tiggo 2 é oferecido com câmbio automático de quatro marchas nas versões Look e ACT por R$ 66.900 e R$ 69.990, respectivamente.

Comprei. E aí?

As seis primeiras revisões tem preço fixo e totalizam R$ 2.759. Além disso, a marca oferece 3 anos de garantia para o veículo e 5 anos de garantia para motor e câmbio. Para que o cliente não tenha medo de gastar seus reais em um Tiggo 2, a Caoa promete um pós venda adequado e planeja abrir mais 30 novas concessionárias no país. Hoje são apenas 25 lojas.

É um trabalho de formiguinha convencer o público a encarar um chinês, mas com uma rede mais numerosa e um bom serviço são aliados em mostrar ao cliente que o Tiggo 2 é um bom negócio. Só propaganda na TV não vai adiantar...

Derrapadas

A Chery é nada menos que a maior fabricante e exportadora de veículos da China – que é o terceiro maior país do mundo e o mais populoso. Ou seja, não estamos falando de peixe pequeno. A falta de tradição na fabricação de veículos faz os chineses vacilarem em pontos importantes. Durante o teste dos nossos colegas da revista Quatro Rodas, o pedal do acelerador partiu no meio. Um fato tão inacreditável quanto inadmissível. Felizmente, com a gente não aconteceu nada disso e o SUV até que agradou, mas esses vacilos assustam e nos fazem perder a confiança no produto.

Sem dúvidas, o Tiggo 2 melhorou em diversos aspectos, tem ótimo custo benefício para o que entrega, mas ainda derrapa em alguns pontos. Se mesmo assim ele te apetece, procure uma concessionária e faça um test drive. O temperinho brasileiro pode fazer a diferença em seu paladar.

 Veja ofertas do Chery Tiggo 2 na Webmotors