Jeep Renegade é conhecido pelo visual marcante. Na versão 1.8 Flex com câmbio automático, a performance não empolga, mas o que pega é o alto consumo.
Está no trabalho de um jornalista automotivo analisar cada modelo dentro de diversas perspectivas, não apenas da sua. Sair do senso comum. E em alguns casos chegar à conclusão que nem tudo é óbvio. Escrevo isso para cravar que o Jeep Renegade, por mais criticado que seja, é um utilitário esportivo compacto que ao contrário da maioria de seus concorrentes não tem o talento de atrair famílias com dois adultos, crianças, pré-adolescentes ou adolescentes, mas jovens solteiros, namorando e recém-casados que têm como plano curtir a vida por um tempo sem a companhia dos pimpolhos no banco traseiro.
Em outras palavras, o Jeep Renegade é um SUV que abre mão de entregar espaço de sobra para muitos para oferecer espaço adequado para poucos. E, sim, isso faz dele uma opção interessante. Pois se a ideia é transportar de segunda a segunda de três a quatro pessoas e todas suas tralhas, faz mais sentido colocar na garagem um Compass. Estou errado?
E cheguei a essa conclusão depois de passar mais de uma semana com a versão intermediária Longitude do Renegade, equipada com motor 1.8 Flex e transmissão automática de seis marchas, que parte de R$ 96.990 e que recentemente recebeu o primeiro facelift, ou atualização de meia vida no design, desde que no Brasil debutou, em 2015.
Apesar de ser realmente uma boa opção para o seu público, o Renegade não se isenta de críticas. Como produto ainda pode evoluir, especialmente em performance nas versões que utilizam o experiente, para não chamar de velho, motor E.torQ EVO 1.8 16V Flex de quatro cilindros e transmissão automática de seis marchas – como a Longitude avaliada. É uma dupla que deixa a desejar nas acelerações e retomadas em baixas rotações, e pega pesado no quesito consumo, entregando os péssimos números de 6,5 km/l na cidade e 7,6 km/l na estrada, quando abastecido com etanol. De acordo com o Programa Brasileiro de Etiquetagem do INMETRO, que mede o consumo e as emissões dos veículos, o Renegade recebeu nota ‘E’, quando comparado com seus concorrentes, e ‘C’ no geral. Nem mesmo o Start-Stop, item de série no Longitude, ajuda a melhorar estes índices que, convenhamos, não são nada bons.
E o que mais incomoda em rodar com essa dupla nada dinâmica, especialmente com este propulsor, que até tem números interessantes, como 139 cv de potência máxima a 5.750 rpm e 19,3 kgf.m de torque a medianos 3.750 giros, é saber que nos Estados Unidos, por exemplo, o Renegade é ofertado com motor 1.4 16V Multiair (turbo) de quatro cilindros que entrega praticamente a cavalaria do E.torQ Evo, com 140 cv, mas o torque é de 23,4 kgf.m e aparece a menos de 2.000 giros. Ou seja, um Renegade muito mais vivo e interessante para que gosta de dirigir.
Para não se decepcionar muito com o Renegade, é preciso aprender a dirigir em rotações mais elevadas para ter respostas mais intensa. Um dos segredos é, assim que entrar no carro e bater na chave para dar vida ao ‘possante’, é apertar a tecla ‘Sport’ – localizada no painel central, próxima aos comandos do ar-condicionado. Naturalmente, a eletrônica fará com que as trocas de marchas ocorram em rotações mais elevadas. A contrapartida, já que toda escolha é uma renúncia, é um consumo de combustível ainda mais elevado.
Em contrapartida, o acerto da suspensão é primoroso. Está na medida certa para entregar conforto na cidade, que é o habitat natural do Renegande com motor bicombustível – se quer vida offroad, não pense duas vezes em investir mais e levar uma das configurações com motor diesel. Com sistema independente nas quatro rodas, sendo McPherson na dianteira e Multilink na traseira, o Jeep absorve muito bem os ‘perigos’ das trilhas urbanas que o asfalto de péssima qualidade de 99,9% das cidades brasileiras proporciona. Ao mesmo tempo que é rígida para minimizar inclinações exageradas da carroceria em frenagens bruscas e curvas acentuadas com velocidade, digamos, acima da ideal.
Com freios a disco nas quatro rodas – ventilados na dianteira e sólidos na traseira –, sobre segurança nas frenagens. Em situações mais emergenciais, o SUV mostrou uma capacidade de ‘estancar’ com muito equilíbrio, sem mostrar sequer intenções de sair de frente ou de traseira. E é preciso levar em conta que estamos falando de alguém que pesa 1.480 kg. Lembrando que ABS (sistema que evita o travamento das rodas) e EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem) são de série e estão ali para dar aquela força no desespero...
E por falar em eletrônica, controles de tração e estabilidade são de série. O Renegade tem um comportamento equilibrado, fazendo com que estes recursos atuem muito esporadicamente e em momentos realmente extremos. No entanto, como itens de segurança que são, ajudam muito a ter uma condução muito menos perigosa em situações em que a aderência do piso não ajuda muito, como aquela garoa fina. Há também o auxiliar de partida em rampa.
O Renegade é muito agradável por dentro. A começar pelo excelente acabamento. Os materiais utilizados são de qualidade e agradáveis ao toque – mesmo os plásticos duros –, e tudo está muito bem encaixado. Não existe folga entre as pelas ou falta de nivelamento entre elas, o que me leva a conclusão de que a montagem do Jeep em Goiana, Pernambuco, é boa e pode garantir um carro sem ‘peças batendo’ depois dos 40.000 km.
A posição também me agrada demais. É de um típico jipinho, ou seja, mais elevada. As regulagens do banco do motorista são manuais, assim como as da coluna de direção – tanto de altura quanto profundidade, duas regulagens que ajudam demais a (como eu gosto de dizer em meus textos e vídeos) ‘vestir’ o carro. E os bancos, revestidos em couro de série, também são muito confortáveis, com abas laterais e no assento na medida para abraçar mesmo os motoristas ligeiramente acima do peso.
O volante é multifuncional e tem excelente empunhadura. Com sistema elétrico progressivo, a direção é extremamente leve para manobras do dia a dia. Não é cansativo rodar por centenas de quilômetros de maneira ininterrupta com o Renegade, mesmo na cidade.
E algo que deixou o Renegade ainda mais interessante, especialmente nesta versão Longitude, é a nova central multimídia. Aliás, exatamente a mesma do Compass. Estou falando de uma tela de 8,4 polegadas, colorida, sensível ao toque e compatível com Android Auto e Apple CarPlay. É uma excelente central, aliás. Rápida e extremamente intuitiva. Além das informações de entretenimento, é possível mexer nas configurações do carro. Quando peguei o carro para teste, a luz diurna não estava funcionando. Entrei na configuração e a função estava desativada. Com um toque no celular, ative o recurso.
Como disse no começo do vídeo, o Renegade não é um carro para família com filhos, sejam eles crianças, pré-adolescentes ou adolescentes, mas sim para uma pessoa solteira que gosta de pegar estrada aos finais de semana ou casal de namorados que quer ainda, por um bom tempo, curtir a vida a dois. Por isso, o Jeep não deve ser comparado com Honda HR-V, Hyundai Creta ou mesmo Nissan Kicks no quesito espaço interno, pois esses asiáticos estão sim de olho no papai, na mamãe, na gurizada e em todas as suas tralhas de segunda a segunda.
O Renegade tem 4,23 metros de comprimento, sendo 2,57 metros de distância entre os eixos. Internamente, para pessoas com estatura mediana – estou falando de 1,75 metro de altura –, quatro pessoas sem problemas. No entanto, uma turminha mais alta, com mais de 1,80 metro, já começa a ficar apertado. Ponto positivo para a entrada USB presente no duto central, disponível para o pessoal que viaja atrás, e negativo para a falta de saída de ar.
No entanto, o que pega mesmo, é a capacidade do porta-malas de apenas 320 litros – um pouco mais que alguns hatches médios. Pensando para um casal apenas, é espaço suficiente. Se precisar de mais espaço, minha sugestão e colocar aquele bagageiro de teto. É uma saída...
Um dos pontos positivos do bagageiro são alguns recursos interessantes, como uma rede para prender objetos menores e frágeis que não podem ficar ‘sambando’ de um lado para o outro por conta do risco de quebrar. Os nichos laterais também conseguem abrigar algumas sacolas de supermercado. O espete, lembrando, passou a ser de uso temporário para que o espaço fosse ligeiramente ampliado.
Em termos de equipamentos de série, o Longitude é completinho. O ar-condicionado, por exemplo, é de duas zonas e pode ser controlado pela central. As rodas de 18 polegadas são de liga leve e utilizam pneus 225/55. A câmera de ré está presente, assim como sensor de estacionamento traseiro. Há também limitador e controlador de velocidade, também conhecido como piloto automático.
Com relação a segurança, o Renegade vem com cinto de segurança de três pontos e encosto de cabeça para todos os ocupantes, dois pontos de ancoragem para cadeirinha infantil (Isofix) e airbag duplo frontal. Há como opcional o Pack Safety, que agrega as bolsas infláveis laterais, de cortina e para os joelhos do motorista. Como opcional também existe a possibilidade de todas as luzes dianteiras – faróis, iluminação diurna e faróis de neblina – serem em LED.
O Renegade 2019 ganhou o primeiro facelift, ou atualização de meia vida desde que chegou ao Brasil, em 2015. A dianteira manteve as sete barras verticais características, mas agora não estão chapadas, mas com uma leve angulação. O para-choque foi redesenhado, mas com uma função offroad de ampliar o ângulo de ataque (entrada) para 28°. Na traseira, a novidade fica apenas para o novo posicionamento da abertura do porta-malas.
Por isso, não se sinta triste por não ter achado que aquele Renegade 2019 era, na verdade, um 2017...
Depende totalmente das suas necessidades. Tem família e está em dúvida entre Renegade e HR-V, por exemplo? Sugiro que ataque de Honda ou, de repente, suba o sarrafo financeiro da compra, aperte o cinto e saia da concessionária Jeep de Compass Sport. Agora, é solteiro ou namora e gosta de pegar uma estradinha aos finais de semana, portanto espaço não é uma das exigências, o Renegade passa a ser uma opção interessante e, convenhamos, com muita personalidade. Afinal, o Renegade consegue muito bem traduzir em termos visuais o que é um Jeep.
visuais o que é um Jeep.
JEEP - RENEGADE - 2017 |
1.8 16V FLEX LONGITUDE 4P AUTOMÁTICO |
R$ 92990 |
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