Mitsubishi Lancer HLE é voltado para o conforto

Versão intermediária do sedã japonês mantém visual esportivo, mas quer agradar as famílias


  1. Home
  2. Testes
  3. Mitsubishi Lancer HLE é voltado para o conforto
Compartilhar
    • whats icon
    • bookmark icon


Em janeiro de 2015, o repórter da WebMotors Marcelo Monegato foi para a pista acompanhar a despedida de um ícone, o Mitsubishi Lancer Evolution X, que deixou de ser fabricado este ano. A última volta não poderia ter sido melhor. O Lancer mostrou estar em plena forma: 2.0 16v turbo de 340 cv, rodas 18 polegadas da BBS, tração integral e grandes freios Brembo. Ou seja, um esportivo puro, com duas décadas de glórias nas etapas de rali e que continuava esbanjando vivacidade mesmo na aposentadoria. Por isso, quando o Lancer HLE chegou para três dias de teste a expectativa foi imensa.

  • Comprar carros
  • Comprar motos
Ver ofertas

Sei que trata-se de uma versão muito mais sensata, destinada para famílias, que deve privilegiar o conforto e tudo mais, mas a verdade é que a comparação é inevitável. A versão intermediária montada em Catalão (GO) sai por R$ 87.990, bem menos que os R$ 220.990 pedidos pelo importado Evolution X (R$ 133 mil de diferença). Seus concorrentes diretos são Toyota Corolla, Honda Civic, Ford Focus e companhia. Nada de Subaru WRX STi.

IMAGE

Nesta briga, o Lancer mostra sinais de cansaço. Nas vendas, ocupa apenas a décima segunda posição entre os sedãs médios, com apenas 2.810 unidades vendidas entre janeiro e setembro deste ano. O projeto de 2007, retocado com a nacionalização do modelo em 2014 traz alguns pontos que marcam a idade. Porém, enganasse quem pensa que a briga está perdida.

O desenho do Lancer continua atual e ainda arrebata olhares pela rua. A frente reta, afiada como um focinho de tubarão, com faróis esguios e a grande grade retangular que ostenta o símbolo da Mitsubishi evocam esportividade. A cintura alta na lateral segue em harmonia com o corte seco da traseira. O conjunto é completo pelas belas rodas aro 16 calçadas em pneus 205/60 de perfil esportivo.

Ou seja, mesmo antes de ligar o veículo, o sedã transfere imponência e esportividade. Não há como não lembrar do irmão das pistas, o Evolution X.

IMAGE

É dentro da cabine que as semelhanças com o irmão das pistas de rally começam a rarear. Ao invés de assentos esportivos Recaro, que prendem o corpo do piloto ao carro, os bancos revestidos em couro sintético são planos e não contam com as abas laterais proeminentes. Já a direção hidráulica que traz os comandos de áudio e piloto automático conta apenas com ajuste de altura (não de distância), o que dificulta achar a melhor posição de guiar.

O acabamento na cabine é espartano, mas os encaixes das peças, assim como a ergonomia dos equipamentos são bons. Pelo preço que cobra, a versão HLE poderia vir melhor equipada. Os principais itens de série são airbags frontais, laterais e de cortina para os joelhos do motorista, sensores crepusculares e de chuva, ar-condicionado automático, multimídia sensível ao toque, farol de neblina dianteiro, teto solar, computador de bordo e rodas de liga leve aro 16. Por R$ 89.990, por exemplo, o Ford Focus Sportback Titanium traz a mais assistente de partida em rampas, controle eletrônico de estabilidade e tração, controle de torque em curvas, espelho retrovisor fotocrômico, aviso de pressão baixa dos pneus e rodas aro 17. Só não conta com o teto solar.

O espaço interno acolhe bem quatro adultos, mas as dimensões são acanhadas perante os rivais. Em comprimento são 4,57 metros (5 cm a menos que o Toyota Corolla), 2,63 metros de entre-eixos (8 cm a menos que o Citroën C4 Lounge) e o porta-malas comporta 413 litros (37 litros a menos que o Chevrolet Cruze). Apesar do baixo volume de capacidade, o porta-malas conta com um eficiente sistema de abertura pantográfica, que não rouba espaço do bagageiro.

Hora de experimentar o conjunto mecânico. Na versão HLE, o Lancer conta com o propulsor 2.0L (4B11 MIVEC) 16v aspirado à gasolina, capaz de gerar 160 cavalos de potência máxima e um torque de 20,1 kgf.m a 4.200 rotações. O câmbio é do tipo CVT (transmissão de variação contínua) que simula seis velocidades. Há ainda possibilidade de trocas manuais por vistosos paddle shifts (borboletas) instalados atrás do volante.

IMAGE

Depois de uma volta no quarteirão fica claro que a pegada deste Lancer não tem nada a ver com o Evolution que conquistou as pistas. Pode ser uma decepção para quem, como eu, lembra das tocadas violentas que consagraram o modelo nas pistas, mas para um motorista mais preocupado com a segurança da família não há do que reclamar.

O câmbio CVT torna a vida do motorista do Lancer monótona. Não há acelerações vigorosas, apenas um aumento gradual da velocidade. Também não espere retomadas de grudar o corpo no banco, o objetivo aqui é apenas fazer o serviço bem feito.  Depois de meia hora experimentando as belas borboletas instaladas atrás do volante, a brincadeira perde a graça. Não há porque usar o equipamento, já que a tocada do carro está longe da esportividade.

Os dados de desempenho fornecidos pelo fabricante ratificam o apelo do sedã. A velocidade máxima informada é de 198 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 10,7 segundos. Números mais do que satisfatórios para um sedã com vocação familiar, mas bem longes do Volkwsagen Jetta TSi (241 km/h de máxima e 0 a 100km/h em 7,2 segundos), que concorre na mesma categoria.

A suspensão é eficiente, o Lancer é um dos poucos da sua categoria a contar com o eficiente conjunto multi-link na traseira, isso resulta em um carro assentado nas curvas. Aliás, o conjunto se mostrou sóbrio também para rodar nas esburacadas vias de São Paulo. Não houve baque seco típico do fim do curso da suspensão.

Ao contrário do Evolution X, o Mitsubishi Lancer não está com os dias contados. Pelo contrário, tem a chance de perpetuar um nome repleto de tradição conquistada nas pistas. Mas para não viver de passado é bom se atualizar frente a concorrência rapidamente. Daqui a pouco, só um nome famoso não vai bastar para fazer bonito nas ruas das cidades.

 

Comentários