Jaguar XF: bela carruagem para um burguês

Versão avaliada pelo WebMotors parte de R$ 312.000 e traz motor 3.0 V6 de 340 cv


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A obrigação de viajar para Ubatuba no fim de semana foi a desculpa para dar início ao teste do Jaguar XF 3.0L V6 que, até então, repousava na garagem do WebMotors a espera de um motorista. O sedã de estirpe inglesa não é nenhuma novidade. O modelo foi lançado no Brasil em 2008, porém as vendas modestas, ainda hoje, o tornam uma raridade pelas ruas.

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O XF é responsável por quebrar de vez com a tradição de design antiquado, marcado por linhas quadradas, típico dos Jaguar feitos até o fim do século 20. A marca conseguiu dar este salto sem perder a elegância e a aristocracia. Sim, não dá para negar, o Jaguar XF é uma bela carruagem para um caricato burguês. Isso explica, em parte, as vendas serem acanhadas frente aos seus concorrentes diretos, leia-se Mercedes-Benz Classe E, Audi A6 e BMW Série 5. O primeiro desta lista alemã, por exemplo, vendeu no primeiro quadrimestre desde ano, 60% a mais que os XF. No mesmo período, a média do Jaguar foi de 20 unidades mensais, somando as suas quatro versões.

Uma rápida conversa com o pessoal da marca inglesa deixou clara a preocupação de aproximar o modelo do povo. “Tem potencial comprador que chega à concessionária imaginando que o XF começa custando em torno de R$ 500 mil”, enfatiza um dos executivos. Não é para tanto. A versão mais em conta do sedã, o Luxury, que vem motor 2.0L de 240 cv, sai por R$ 231.700.

Curiosamente, os exemplares da esquadra alemã são mais caros. O Classe E 250 Avantgarde sair por R$ 251.900. Já o BMW Série 5 M Sport custa R$ 259.950 e o Audi A6 mais em conta, o Ambiente 3.0 Quattro, tem preços a partir de R$ 299.000. O XF testado, na configuração Portfolio, traz um possante V6 3.0L com 340 cv ao custo inicial de R$ 312.000.

Preços a parte, voltemos para as linhas desenhadas por Ian Callum. O estilo de caída acentuada do teto na traseira faz com que a Jaguar arrisque um cupê esportivo quando se refere ao XF. Apesar de ser um sedã, a comparação é válida. Entre os concorrentes, este Jaguar é sem dúvida, de longe, o mais sedutor. Pena que cobre um pouco desse charme no espaço interno. Lembra da desculpa do início do texto? Pois é, a viagem até Ubatuba envolveu dois adultos no banco traseiro. Um deles com 1,83 metros de altura que sofreu com a cabeça.

As dimensões do XF são avantajadas. No comprimento, são praticamente cinco metros (4,96 metros precisamente) e o entre-eixos também é generoso – são 2,90 metros -, dados que poderiam justificar um amplo espaço interno (o Corolla, por exemplo, tem 2,70 metros). O problema nos bancos traseiros ocorre pelo túnel central alto (em função da tração traseira) e pela curvatura acentuada do teto.

Apesar de tamanha mudança visual, o XF é um legítimo Jaguar e isto revela algumas características pouco comuns hoje em dia. A primeira delas é o acabamento primoroso. A cabine – além dos bancos e do painel das portas – é revestida em couro. Isso mesmo. Até a junção do painel com o para-brisa, lugar onde nunca se passará os dedos, recebeu pelica com dupla costura. A camurça que cobre todo o teto é mais espeça que o tapete de casa. Peças de alumínio dividem o pouco que restou da superfície do habitáculo com finas placas de madeira legítima. Em questão de acabamento, o mais simples Jaguar se formaria com honrarias no Institut Villa Pierrefeu, a mais renomada escola de etiqueta suíça.

Lembro certa vez, há bastante tempo, ter presenciado o frentista de um posto de combustível abismado, parado de frente à porta de um Jaguar XJ. O rapaz abria e fechava a porta repetidamente. Ainda incrédulo, o homem chamou os companheiros de trabalho e a cada vez que abria a porta os questionava sobre o que acontecia no interior do carro. Curioso, me aproximei e perguntei o que se passava. Sempre que a porta era aberta o volante e o banco do motorista se afastavam para facilitar a entrada do condutor.

O XF também faz isso, mas hoje a prática é comum há outros modelos que cobram, por algumas voltinhas, acima dos R$ 300 mil. Talvez por isso a Jaguar foi ao detalhe e inovou com a alavanca de câmbio. Trata-se de um botão giratório que educadamente se levanta sempre que o motor é ligado. Por baixo da peça está uma moderna caixa da alemã ZF de oito velocidades. Por uma exigência de mercado há ainda a opção de se fazer trocas por borboletas atrás do volante.

Os mimos de conforto vão ainda às saídas do ar-condicionado digital de duas zonas que se abrem quando o botão da partida é acionado, outro botão se encarrega de abrir o porta-luvas gentilmente, afinal nenhuma madame pode desfazer as suas unhas. Por fim, um terceiro botão se encarrega de erguer as cortinas do vidro traseiro automaticamente.

Os detalhes acima tornam o XF único em sua categoria em termos de conforto e sofisticação, além de um autêntico Jaguar. Porém, alguém tem que pagar a conta, certo?  E ela é paga pela lista de equipamentos.

As rodas são aro 19, os bancos, que mais parecem poltronas, contam com aquecimento e resfriamento para motorista e passageiro, além de função de memória. O sistema de som é da renomada marca Meridian (são 11 alto-falantes e 380 W de potência),  o destravamento das portas é feito por toque, há sensores de estacionamento traseiro, tela multimídia com GPS e 30 Gb de armazenamento, teto solar elétrico, monitor de ponto cego, controlador e limitador de velocidade, sistema de monitoramento da pressão dos pneus, faróis bi-xenon, fora uma amplo portfólio de equipamentos de segurança – controles de tração e estabilidade, distribuição eletrônica de frenagem, ABS, além de airbags dianteiros e de cortina.

Apesar de vasta, a lista de equipamentos ainda é tacanha perto de outros concorrentes. O BMW Série 5, por exemplo, traz controlador de velocidade adaptativo, uma evolução do sistema tradicional. O sedã é capaz de até parar e depois retomar a velocidade sozinho. Já o Mercedes-Benz Classe E analisa as expressões do motorista e envia um sinal sonoro e luminoso sempre que detectar que o condutor está sonolento. O Audi A6, por sua vez, é capaz de perceber quando o motorista se aproxima de uma faixa de rolagem sem dar seta e fazer leves ajustes na direção. No caso do Jaguar, a maior modernidade está na tela do sistema multimídia, de dimensões modestas (sete polegadas) que é sensível ao toque. Parte desta falta de tecnologia se explica também pela idade do projeto que já tem mais de seis anos.

As curvas da Serra do Mar


Quem já fez o trajeto entre São Paulo e Ubatuba passando por Taubaté sabe que para chegar ao destino é obrigatório enfrentar uma estrada vicinal que tem uma série de curvas traiçoeiras, verdadeiros cotovelos, que constantemente são envoltos por uma camada grossa de neblina. Um ambiente propício para testar a desenvoltura do V6 3.0L Supercharged e seus 45.6 kgf.m de torque máximo.

Neste quesito, o Jaguar não deve nada aos alemães. O XF é um sedento domador de curvas. A tração traseira brinca com os 1.690 quilos do sedã. O sistema dinâmico de estabilidade age sutil para reduzir uma eventual falta de tração das rodas e corrige saídas de dianteira. Lembra um Audi de tração integral. A suspensão trata de deixar o XF colado no chão, sempre equilibrado, enquanto o V6 mantém o sedã sempre apetitoso nas acelerações.

Segundo a Jaguar, o modelo faz de zero a 100 km/h em 5, 9 segundos e a velocidade máxima é limitada eletronicamente em 250 km/h. Porém, não é preciso infringir nenhuma lei de trânsito para sentir um prazer imenso em guiar o XF. Nem mesmo o dia ensolarado e a praia vazia causaram tanta empolgação quanto dirigir este Jaguar.

Claro que tanta alegria cobra um preço. O V6 consome gasolina com apetite de leão. No nosso teste cravou, em circuito misto (cidade é rodovia), 6,9 km/l.

Dificilmente o Jaguar XF vai se tornar o queridinho dos afortunados. Já é um modelo em final do ciclo de vida, que traz algumas defasagens em relação à concorrência, mas não dá para tirar dele a sofisticação, o requinte e o prazer de guiar, que são incomparáveis.

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