BMW Série 2 Active Tourer é um ótimo exemplo de ambiguidade

Primeiro modelo com tração dianteira da marca alemã traz esportividade para a família


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Velocidade máxima de 240 km/h, aceleração de 0 a 100 km/h em 6,6 segundos, 234 cv de potência máxima, rodas aro 18, aerofólio traseiro e grandes saias laterais. Cada marca coloca o seu DNA na hora de construir um novo modelo, mas as características que a BMW utilizou para lançar o seu primeiro veículo com tração dianteira e, ainda por cima, uma minivan, foram, para falar o mínimo, bizarras e contraditórias. Assim se pode definir o Série 2 Active Tourer (225i CAT Sport GT) que é vendido no país por R$ 179.450.

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Ambiguidade pode resumir todo o projeto. Imagine como foi para a alta cúpula da marca alemã dar o seu ok para a construção do primeiro tração dianteira da história da marca. Ou então, decidir que a estreia seria em uma das categorias mais sem graça, a de monovolumes. É possível até imaginar um executivo alemão com farto bigode, dois metros de altura, tradicionalista tendo que dar o braço a torcer: Vocês venceram, vamos fazer, mas o carro vai ter desempenho para deixar um Golf GTI comendo poeira. E assim nasceu o Série 2 Active Tourer, apresentado ao mundo em outubro do ano passado.

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Se engana quem pensa que a contradição fez mal para a minivan. Apenas a deixou exótica. As dimensões, por exemplo, são de um Fiat Idea anabolizado. São 4,34 metros no comprimento (o Idea Aventure tem 4,20 m), largura de 1,80 metro (o Mercedes B200 tem 1,79m) e entre-eixos de 2,67 metros (o Honda Fit, referência em espaço interno em sua categoria, entrega 2,53 m). Por fora, o modelo se acomoda facilmente em qualquer vaga e por dentro entrega espaço de sobra para quatro adultos grandes. O interior seria generoso para até cinco ocupantes, caso o túnel central não fosse tão elevado.

Um ótimo ponto emprestado e até aprimorado dos monovolumes mais “simplórios”, leia-se Fit e outros, foi a modularidade. Primeiro, não é preciso esforço para abrir a tampa do porta-malas, basta apertar um botão no chaveiro e a porta se ergue. Para fechá-la há outro botão na própria tampa. O compartimento acomoda 468 litros de bagagem, volume bom para um veículo familiar. Porém, o valor de carga pode chegar até ótimos 1.510 litros com os bancos traseiros rebatidos. Para isso, basta apertar um terceiro botão que fica localizado no porta-malas e o assento traseiro, que é tripartido (40/20/40), se reclina. Tudo que uma mãe ou um pai atarefados com as crianças, mais as compras do supermercado, precisam à sua disposição.

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As facilidades não param por aí. Os assentos dianteiros contam com regulagens elétricas de altura e profundidade, sendo que o banco do motorista traz ainda três posições de memória. Para os assentos traseiros também é possível ajustar o encosto das costas, deixá-los mais inclinados ou retos. Talvez não fosse preciso dizer (já que era de se esperar), mas os bancos, volante, painel e as laterais das portas são forrados em couro perfurado (Dakota).

Os encaixes das peças e o acabamento seguem o padrão dos BMW Série 5 ou 7, ou seja, estão entre os melhores da indústria automotiva mundial. Lembra da discussão de lançar ou não um modelo com estas rupturas? Então, com medo de passarem vergonha, os alemães capricharam também no quesito sofisticação interna. Esqueça aquele painel central com inúmeros botões e instrumentos desordenados, tudo segue uma lógica clean e fácil de manusear. A exceção fica pelo controle de funções do sistema multimídia com tela de 6,5 polegadas, que não é sensível ao toque. São necessários cinco botões mais um botão giratório para acessar as dezenas de funções do sistema.

O conjunto é extremamente completo, é possível regular desde funções básicas como as estações de rádio até acessar uma plataforma de concierge. Isso mesmo, o monovolume traz de série o BMW ConnectedDrive que permite uma vasta gama de serviços online, que inclui desde aplicativos no celular até falar com um atendente para saber a previsão do tempo ou fazer a reserva em um restaurante.

Durante o teste, uma atendente que disse estar na Europa, foi muito educada e atenciosa ao descrever as funções do serviço. Porém, por uma queda na rede ela não foi capaz de enviar ao GPS do carro as coordenadas de um endereço. Segundo a BMW, o serviço, que também traz opção de chamadas de segurança em caso de um acidente, não tem custos para o comprador.  

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Uma das principais contradições do modelo está em um dos seus pontos positivos, o conjunto mecânico. O Série 2 Active Tourer traz um respeitável 2.0L biturbo capaz de entregar 35,6 kgf.m de torque máximo desde as 1.250 rpm até as 4.500 rotações com um câmbio automático de oito marchas (F22 350). É preciso tomar cuidado ao pisar no acelerador, é fácil as rodas dianteiras quererem desesperadamente girarem em falso e o condutor grudar as costas no assento, que é esportivo e traz grandes abas laterais.

O conjunto é excelente. O câmbio faz trocas imperceptíveis (ainda é possível usar as borboletas atrás do volante) enquanto o motor tem a vivacidade de um corredor de 100 metros rasos. A suspensão é rígida na medida para contornar as curvas mais fechadas como se fossem retas. Os controles de estabilidade e tração em conjunto com a suspensão multilink na traseira com barra estabilizadora e McPherson na dianteira simplesmente anulam a tendência de perder o equilíbrio por conta do quase 1,60 metro de altura da minivan.

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Há ainda quatro modos de condução, que podem ser alterados por uma chave seletora no painel central: Sport +, Sport, Comfort e Eco Pro. O primeiro torna a minivan mais arisca e o último privilegia o consumo (inclusive um marcador de economia de combustível aparece no painel de instrumentos. Durante o nosso teste, rodando apenas na cidade, a média de consumo ficou em 7,6 km/l.

Os largos pneus 225 com perfil baixo (45) calçado em rodas aro 18 facilitam a tarefa, mas contribuem também para filtrar mal as imperfeições do asfalto. No dia a dia do rodar nas cidades, as batidas secas da suspensão tornam a sensação de dirigir a Active Tourer menos atraente.

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E aí que mora a contradição falada anteriormente. A BMW se esforçou para ter a mais esportiva das minivans. Talvez para se desculpar do fato de ter criado um modelo com tração dianteira e que não conta com a tradicional distribuição de peso 50/50 (são 58% na dianteira e 42% na traseira). Mas o fato é que fez um veículo voltado para a família, recheado de equipamentos (função start-stop, um enorme teto solar panorâmico, ar-condicionado bizone, só para citar alguns), com um acabamento de primeira e espaço interno bom para quatro ocupantes e isso não combina com a pegada esportiva dada para a minivan. Afinal de contas, acho difícil alguém querer levar as crianças para o colégio acelerando até 100 km/h em apenas 6,6 segundos ou quicando a cada buraco.

 

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