Como reagir depois da primeira queda de moto

Medo em excesso prejudica porque o motociclista tenderá a pilotar muito devagar e frear demais e desnecessariamente
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Geraldo Simões
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Dizem que só existem três tipos de motociclista: o que já caiu, o que vai cair e o mentiroso. Cair de moto nem sempre significa algo tão ruim e dolorido, mas faz parte do aprendizado, assim como cavaleiros caem, motoristas batem durante a baliza e navegadores encalham na vazante. Faz parte.

 

O que não pode, nem deve, é fazer da queda um trauma para o resto da vida. Posso afirmar por experiência própria que após um acidente durante uma competição de enduro, quando fiquei três meses com gesso no corpo, pensava várias vezes que jamais voltaria a correr de moto e passar por isso de novo. Menos de um ano depois lá estava eu de novo em uma competição e continuei inteiro até hoje!

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Recentemente recebi uma mensagem de um leitor afirmando que após uma queda besta estava com medo de fazer curvas para a direita. Sempre que algum motociclista me diz que tem medo eu conforto com a mesma frase: "ainda bem que você tem medo, porque coragem demais também é ruim".

 

Curioso foi o leitor afirmar o medo de fazer curva para a direita e aqui vale uma explicação. Normalmente motociclistas se sentem mais à vontade fazendo curvas para a esquerda. Mesmo pilotos experientes sentem isso. Por isso todo mundo ama Interlagos, porque é uma pista com mais curvas para a esquerda.

 

Essa característica já teve várias explicações técnicas. Desde a polaridade da Terra, alinhamento dos planetas, piloto destro ou canhoto, curvatura do piso, enfim, já li e ouvi várias teorias, menos a real. Uma rápida análise na motocicleta permite perceber que ela é assimétrica e tem comandos diferentes de cada lado. Quando o motociclista faz curva para a direita, principalmente se estiver muito inclinado, o braço direito fica dobrado e tira parte da mobilidade do comando do acelerador. Além disso, o pedal do freio traseiro, que fica do lado direito, fica inacessível se a moto estiver inclinada porque a ponta da bota pega no asfalto.

 

Já na curva para a esquerda o braço direito fica esticado e totalmente livre para comandar o acelerador e pode-se usar o freio traseiro livremente. Por isso, em curvas para a esquerda nós nos sentimos muito mais à vontade para controlar e corrigir eventuais erros.

 

Levanta, sacode a poeira...

Voltando ao trauma pós-queda. Já escrevi que um pouco de medo ajuda a preservar a integridade física, mas quando é demais pode também atrapalhar e colocar o motociclista em perigo. Após uma queda, por mais inócua que seja, o ideal é voltar aos poucos, deixar que corpo e mente voltem naturalmente a se sentir à vontade no ambiente semi-desequilibrado das duas rodas. Não force a barra, nem lute contra sua ansiedade. O melhor remédio é o tempo e a naturalidade que vem da experiência.

 

Medo em excesso prejudica porque o motociclista tenderá a pilotar muito devagar e frear demais e desnecessariamente. E uma das regras de sobrevivência dos motociclistas é trafegar sempre na mesma ou um pouco acima da velocidade do tráfego. A moto é um veículo pouco visível naturalmente e colocar-se muito devagar pode representar mais risco do que solução.

 

O medo é a sensação de ansiedade diante do perigo. Ele diminui na razão direta de quanto mais à vontade se sentir pilotando moto ou qualquer outra atividade. Se ele for tão intenso a ponto de prejudicar a segurança é melhor investir em um treinamento especializado por meio de cursos. Hoje existem profissionais que desenvolvem esse preparo de desinibição ao guidão que ajudam a recuperar o trauma pós-queda ou mesmo compensam a falta de instrução das moto-escolas que hoje apenas concedem a licença para pilotar e não ensinam nada além de manter-se equilibrado.

 

Seja qual for o veículo, quanto mais natural for a adaptação maior será a segurança e confiança ao conduzir.

 

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